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Baú de Relíquias - A bola não pára

Histórias do Kolecza

EM MEMÓRIA DE “PENICILINA”

Carlos Alberto Kolecza (*)

Do jeito que o Jayme Araújo falou, abriu a porteira do túnel do tempo para o passado do futebol de Santa Rosa.

Embarco de carona, enquanto não fecha o sinal.

A geração de agora ironiza lembranças encharcadas de saudosismo, dos tempos do Ariri Pistola. Daqui a 30 ou 40 anos, quando chegar a sua vez, perceberão que guardam tesouros no baú da memória.

Só então descobrirão a alegria de poderem dizer “ eu vi isso ou aquilo” ou “eu estava lá”.Claro, algumas lembranças são de uso e gasto pessoal, íntimas. Falo das outras que formam a base da memória coletiva, que fazem parte de um projeto com mais gente na garupa.Devem ser compartilhadas de parte a parte, mais ou menos como os guris trocam figurinhas para completar seus álbuns. É até obrigação. Santa-rosenses da minha faixa podem não ter muito em comum para conversar, até alguém lembrar um jogador com apelido de injeção. (é uma vergonha, não sei o nome dele). Em segundos, uma explosão de lances geniais de “Penicilina”, com ou sem bola, revelará uma amizade íntima de que nunca desconfiaram antes.O mundo mágico do futebol se abre instantaneamente, à simples menção do nome de um jogador ou de um clube.Abracadabra. Ates de passar ao outro plano “Penicilina” nos presenteou um futebol mais inteligente e bonito ainda vivo em nossas retinas. Não é só isso. Como em um filme, rodopia o carrossel das emoções que vivíamos, as aventuras, as amizades, os sonhos. Tendo a Santa Rosa de então como cenário. O futebol fazia girar o carrossel e montados nele pintávamos a visão que tínhamos de nós mesmos e dos outros.O futebol nos “amansou”, garotões tinhosos que éramos dentro e fora do campo. Nós e toda uma geração. Foi uma escola de vida que completava as lições de casa e da escola.Era o fecho de nossa identidade, a certeza de pertencimento a uma comunidade, a uma cidade, a uma sociedade. Independente de clubes, eramos e somos gratos a quem fazia o carrossel girar, mesmo sem nunca trocarmos uma palavra. O futebol nos igualava na tristeza e na alegria.Certo, aceito que foi assim porque era o jeito de as coisas acontecerem. Outra época, outro jeito, de pleno acordo.Só me pergunto o que aconteceu – melhor o que não aconteceu com a geração que veio depois, quando o futebol se refugiou nas canchas (quadras) de futsal.A época em que – presumo de longe – o futebol de campo esteve morto.Em certa passagem por Santa Rosa assuntei a duvida com o Liton Pilau, uma perda trágica para o encontro da cidade consigo mesma.

Ele se foi e até hoje tateio em busca da resposta.Só fico torcendo para que os garotões que nos sucederam tenham encontrado outro modo de serem felizes como nós fomos em volta de uma bola.


A foto que ilustra a matéria é do atleta do EC Aliança, Fredolino Schultz, o Penicilina, com o troféu de campeão estadual.

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